resistencia

Saturday, December 30, 2006

CONTRA A HUMANIDADE


Claro que estou triste. Muito triste mesmo:
Como homem, ocidental, eu ropeu e cristão.
Triste pelo enforcamento dos Sadam Hussein, como ficara triste com a notícia dos crimes de que era acusado. Evergonho-me da execução do ditador iraquiano, tal como senti vergonha de pertencer a este mundo, quando reparei que o ocidente, mascarado de cavaleiro andante da democracia, para encontrar o ouro negro do petróleo, destruía uma a uma as estruturas de um país, lançando numa feroz guerra civil.
Triste e envergonhado, também porque, como aconteceu noutras ocasiões, com a gravíssima necrofilia de que enferma a nossa cultura, toda a comunicação social, televisão, jornais e revistas, anda à busca dos lucros que pode tirar do evento
E ninguém forma ninguém, porque todos querem ser informadores.
Estou triste, porque não se criam espaços de reflexão serena, para podermos ver a extensão da tragédia, sobretudo para nós, ocidentais e cristãos, que pode denunciar uma morte como esta.
Tragédia já em curso, mas que poderemos ainda remediar se não continuarmos a ser infiéis à nossa missão histórica.

NO INTERVALO DOS EXCESSOS


Tarde de domingo, sob céu plúmbeo de uma Roma indecisa, que desde os Tarquínios – quiçá mesmo de há mais tempo – constrói a sua história sobre as ruinas de um passado que não consegue rejeitar na totalidade e que a cada passo se intromete nos seus mais belos sonhos.
Roma dos Césares e dos Papas, com o que de melhor e pior evocam tais nomes, também me diverte com os jogos das crianças que ocupam os jardins erguidos no sítio das Termas de Trajano.
Trajano, que levou a língua e a cultura latinas às montanhas da Dácia... onde se viria a formar o único país moderno que conserva o nome da cidade dos imperadores. Coluna de Trajano, Termas de Trajano... e começamos a descer uma escada íngreme. É a entrada para a Domus Aurea... o palácio dourado de Nero, diz-se.
No interior daquelas salas – privadas da luz do sol durante séculos – tudo se mistura: o ar fresco, ligeiro conforto após a canícula da superfície, envolve-nos entretanto nos fantasmas de mais de dois mil anos de história.
Vou-os afastando como quem sacode teias de aranha que dificultam a visão do espaço.
Fantasmas do passado, imagens do presente, tentações de pessimismo, hesitações de adolescente que começa a duvidar do futuro.
Sala das orgias, vomitório.
Diz o nosso guia, exibindo a sua erudição de prontuário turístico: no tempo de Nero organizavam-se aqui banquetes que duravam seis meses; quando os comensais estavam fartos vinham vomitar nesta sala, para poderem continuar no banquete.
O exagero da informação, em vez de me provocar cepticismo, quase me fazia vomitar. Por isso não tardei em sair do local.
Mas fico a pensar na tragédia de uma civilização que, em vez de corrigir os seus excessos busca expedientes para mantê-los, apressando a sua ruina.

Recordei-me desta página, escrita há mais de quarenta anos, quando vi as imagens da televisão, com toda aquela série de portugueses, principalmente senhoras, que, nesta época de crise, praticam o tal ciclismo fixo... para poderem praticar na passagem de ano os excessos que praticaram no Natal
Teremos nós regressado aos tempos da decadência do Império Romano, dos palácios dourados, com as suas orgias e os seus vomitórios?

Saturday, December 23, 2006

EM JEITO DE HOMENAGEM



Nas vésperas do Natal, pensando nesse mistério de um Deus que Se faz embrião humano no ventre de uma mulher, dedico a todas as mães, cujo heroismo não cesso de admirar, mais uma página do meu diário que fala delas.

Ladeio o Lis, em sentido contrário ao da sua marcha para o mar... Para o mar? Quem diria? A dois passos da nascente, lento, cantarolando a alegria da vida que, apesar do Outono, ainda sorri nas suas margens, não se vê nenhum sinal daquela inquietação em que irá mergulhar, alguns quilómetros mais abaixo.
Dizemos “mais abaixo”, porque na nossa mente, as águas sempre descem.
No entanto, lá diz a canção que eu aprendi ainda antes de conhecer a cidade: Em Leiria, tudo assim é:/ O rio corre para cima,/ A rua Direita é torta/ E a torre está fora da sé.
Corre para cima.
Talvez por isso seja tão lento.
Volto à esquerda, atravesso a ponte da nora – aquela nora que há muito é apenas imagem da memória – viro à direita e inicio a subida: estrada tortuosa, como todos os caminhos de montanha, também ela carregada de lembranças com todos os coloridos da vida.
Vou pensando nos discursos desencontrados que ouvi na véspera sobre direitos e deveres da mulher grávida... quase todos dominados pela ideia de que a mulher é senhora do seu corpo, pelo que nada nem niguém pode obrigá-la a deixar que se desenvolva nela uma vida que não desejou ou pode vir a alterar os seus hábitos; e falava-se também no seu direito de exigir do Estado todas as condições para eliminar essa vida com segurança.
Quase instintivamente lamentava que ninguém falasse no direito a exigir do Estado as condições necessárias à realização do que, no fundo, deseja toda a mulher que se dá conta da presença de um novo ser, no ventre que Deus lhe deu para O ajudar a desenvolver o dom da vida.
A dada altura, pelas ondas herzianas chega-me aos ouvidos uma voz de ouro que, acompanhada do som dolente de instrumentos antigos, raros, me traz o lamento da Llorona... e a riqueza semântica da lenda mexicana, assumida, adornada – quem dera que não desfigurada – pela cultura e pelos artistas do Ocidente europeu, da era colonial.
E sinto um estremecimento: A Llorona transformava-se em Medeia e já não era a mãe corroída pelo remorso procurando em vão os próprios filhos, nas águas em que os afogara: era a amante que se vingava da traição nos frutos do seu amor louco, da paixão que antes a levara a trair o seu próprio passado.
A mãe, a mulher, sempre procurada e traída, mas nunca arrependida de ser o que é, mulher e mãe, como o amor de Deus, que da morte sempre faz ressurgir a vida.
E recordei aquele poema belíssimo, pescado nos espaços confusos da blogosfera:
LÁGRIMAS DE MÃE E MULHER
Um garotinho perguntou à sua mãe:
- Mamãe, por que você está chorando?
E ela respondeu:
- Porque sou mulher...
- Mas... eu não entendo.
A mãe se inclinou para ele, abraçou-o e disse:
- Meu amor, você jamais irá entender!
Mais tarde o menininho perguntou ao pai:
- Papai, porque mamãe às vezes chora sem motivo?
- Todas as mulheres sempre choram sem motivo...
Era tudo o que o pai era capaz de responder...
O garotinho cresceu e se tornou um homem. E, de vez em quando, fazia a si mesmo a pergunta: "por que será que as mulheres choram, sem ter motivo para isso?"
Certo dia esse homem se ajoelhou e perguntou a Deus:
- Senhor, diga-me... por que as mulheres choram com tanta facilidade?
E Deus lhe disse:
- Quando eu criei a mulher, tinha que fazer algo muito especial.
Fiz seus ombros suficientemente fortes, capazes de suportar o peso do mundo inteiro... porém suficientemente suaves para confortá-lo.
Dei a ela uma imensa força interior para que pudesse suportar as dores da maternidade e também o desprezo que muitas vezes provém de seus próprios filhos!
Dei-lhe a fortaleza que lhe permite continuar sempre a cuidar de sua família, sem se queixar, apesar das enfermidades e do cansaço, até mesmo quando outros entregam os pontos!
Dei-lhe sensibilidade para amar seus filhos, em qualquer circunstância, mesmo quando esses filhos a tenham magoado muito...
Essa sensibilidade lhe permite afugentar qualquer tristeza, choro ou sentimento da criança, e compartilhar as ansiedades, dúvidas e medos da adolescência!
Porém, para que possa suportar tudo isso, meu filho... eu lhe dei as lágrimas, e são exclusivamente, para usá-las quando precisar. Ao derramá-las, a mulher verte em cada lágrima um pouquinho de amor. Essas gotas de amor desvanecem no ar e salvam a humanidade!
O homem respondeu com um profundo suspiro...
- Agora eu compreendo o sentimento de minha mãe, de minha irmã, de minha esposa.

(Autor Desconhecido [extraído de um blogue brasileiro]).

Wednesday, December 13, 2006

É isso mesmo!



Querida Lena,
Em primeiro lugar, muito obrigado pela tua colaboração, incluindo esta linda imagem da Maria, que me atrevo a publicar sem autorização dos pais, na certeza de que não me levarão a mal…
Respondo aqui ao teu comentário, com esperança de que assim a minha resposta seja mais lida:
Concordo contigo cem por cento.
É pena com essa mentalidade do “dou para que me dês” seja cultivada por pais e educadores com fé, muitas vezes no seio de instituições de inspiração cristã, beneméritas a tantos títulos, mas que não sabem fazer uso da imaginação, para fazer com que o Natal seja uma verdadeira experiência de amor gratuito – dou porque amo -, e não a imensa feira de consumismo egoísta, que é a grande chaga deste pobre mundo ocidental

Sunday, December 03, 2006

UM DESABAFO


É só um desabafo

Ao princípio da noite, olhando a cidade por uma clareira que o Outono abriu no arvoredo da encosta: é um lindo espectáculo, este mar de luz... e a memória das ruas iluminadas, a anunciar a proximidade do Natal: montras gritando pelo nosso dinheiro, cabeças em água para se decidirm sobre as prendas que têm de comprar, iniciando um longo processo de intenções à raiz das que vão recber.
No meio de tudo isto, a incoerência das festas de empresa, a distrairem as crianças das aflitivas condições de vida dos pais, que, quando chega esta quadra andam mais nervosos, passam menos tempo com os filhos.
Assim, o Natal, no nosso mundo de hipocrisia e consumismo, é tudo menos a recordação do mistério de um Deus que Se faz criatura, pobre, pequenino e desarmado, para que nos sintamos menos sós na nossa caminhada ao longo da história.
Apetece-me desabafar: Porque não experimentam as empresas a poupar o que gastam no seu Natal consumístico, para melhorar as condições de vida dos seus colaboradores, deixando-os mesmo mais livres para estar com a família nestes dias de festa?
É só um desabafo.

CORAGEM E SERENIDADE




Um exemplo para a Europa decadente

Para algum visitante que ainda se perca por aqui, depois de tão longo silêncio, vai a indicação de um dos aspectos da minha resistência aos furacões que tenatm teimosamente destruir-me a memória:

De Roma a Roma, depois do percurso espinhoso, muitas vezes solitário, entre Ratisbona e Istambul: Bento XVI, conjugando como poucos o souberam fazer antes, as exigências da honestidade intelectual com a missão de pastor universal do Povo de Deus, acaba de dar a este mundo de interesses imediatos, gestos hipócritas e fugas cobardes, um testemunho de fé em Deus e confiança nos homens, que não podemos deixar perder no imenso deserto de ideias que caracteriza a nossa comunicação social.
Um deserto que, nesta Europa cada vez mais no fundo abismo, se agrava com as tentativas de classificar os que pensam, do modo a apagar o seu pensamento; a ver se se conseguem neutralizar as ideias que incomodam a mediocridade geral.
Teríamos necessidade de alguèm que se desse ao trabalho de, abstraindo de comentários e polémicas, fizesse uma recolha, tanto quanto possível completa, das palavras e dos gestos do Papa, ao longo destes dois meses e meio, e os oferecesse assim, puros, com a transparência que lhes roubam as agências noticiosas e respectivos comentadores.
Não sei se isso seria possível.
Sei, no entanto, que quem tivesse amor e coragem para empreender essa tarefa, estaria a prestar um serviço incalculável a toda a humanidade, e faria o papel de bom samaritano, acudindo a este velho continente, tragicamente caído nas mãos de todo o tipo de salteadores.