resistencia

Thursday, November 27, 2008

O CLAMOR DAS RUINAS



Podemos perfeitamente admitir que os apóstolos trabalharam em Icónio durante mais de um ano e que fizeram sortidas nos arredores... onde fundaram pequenas Igrejas aldeãs que mais tarde se viriam a unir à Igreja principal de Icónio. Ao lado de Antioquia, Icónio foi durante muito tempo um ponto focal da Cristandade, no interior da Ásia Menor, e constituía um patriarcado com cinco cidades.
Mas não ficaria sempre assim: Veio um tempo em que Icónio se tornou residência de sultões e sede de seitas muçulmanas radicais.
Antes da IGuerra Mundial, Icónio tinha uma população de 60.000 habitantes, e o caminho de ferro para Bagdad fez dela novamente uma cidade importante. Os cristãos arménios mantiveram-se leais à sua fé, até serem brutalmente massacrados pelos turcos durante a guerra.
Assim, a herança de Paulo, fruto do seu trabalho e do seu sofrimento, a amada Igreja da Galácia, caiu no esquecimento.
Mas tudo isto está de acordo com a tragédia da vida de Paulo e do seu lugar na história.

Traduzi livremente da versão inglesa do livro de Joseph Holzner: Paulus, seine Leben und seine Briefe.
Um texto muito naterior ao oportunismo nascido do Ano Paulino, que, sem deixar de ser uma dádiva preciosa de Bento XVI à Igreja, num mundo venalizado como o nosso, corre sérios riscos de se transformar numa ocasião perdida. São Paulo e a história das suas viagens apostólicas merecem muito mais do que tornar-se ocasião de enriquecimento para comerciantes, a maior parte dos quais inclui os herdeiros daqueles que destruiram a sua obra na Ásia Menor.
Sai-me do fundo da alma um grito dirigido aos crentes do Ocidente que vão percorrer "os passos de São Paulo", seguindo itinerários geralmente escalonados por quem não quer saber da sua mensagem para nada, pedindo-lhes que aproveitem para tazer da Turquia mais do que lá vão deixar: A lição de São Paulo, da sua loucura por Cristo... e também a tragédia da sua vida, da qual falam as ruinas das comunidades, das Igrejas que fundou.
Ruinas com as quais os cristãos do Ocidente se resignam num silêncio tão cúmplie como cobarde.

Wednesday, November 26, 2008

O MAU USO DAS PALAVRAS

I
FALANDO DE LAICIDADE

O mal não é de hoje: podemos até dizer que existe desde o primeiro momento em que o homem se deu conta de que podia usar determinados sons para comunicar, não propriamente o seu pensamento, mas aquilo que gostaria que os outros vissem como pensamento seu.
Chame-se-lhe o que se quiser: manipulação da linguagem, terrorismo linguítsico, erro, falácia, ou simplesmente mentira.
Mentira consciente, porque se quer enganar, ou mentira involuntária, porque se ignora o real significado das palavras.
Seja como for, pode dizer-se que o combate ideológico, seja filosófico, político ou religioso, está muitas vezes marcado pelo mau uso das palavras, que tanto podem servir para ilustrar como para enganar.
É um tema que já abordei mais do que uma vez nos meus blogues e que me traz realmente apoquentado, pois me dou conta de como, em Portugal, os formadores da opinião pública, por distracção, às vezes, por ignorância, muitas vezes, e por má fé, quando nos apanham distraídos, encobrem o erro com o véu das palavras.

Um grupo delas, agora muito em moda, pertence à familia de laico (latim: laicum, que, por via normal, não escolar, veio a dar leigo): laicismo e laicidade.
Esta última palavra, porque muito do apreço de Bento XVI, aparece agora com mais frequência nos jornais, que, no entanto, não a tomam no sentido em que a emprega o Papa, mas aproximando-a subreticiamente de laicismo, que é outra coisa radicalmente diferente.
Aconselha-se a leitura de um texto publicado pelo Dr. Luís Inácio João, em Leiria-Fátima, órgão oficial da diocese, sob o título: “Laicidade, serviço à pessoa e à sociedade”.

Ao autor agradeço o ter-me posto à disposição esse texto, do qual transcrevo o passo seguinte, como introdução a outras reflexões que farei sobre o mau uso desta e doutras palavras que andam por aí aos pontapés de quem quer.

Entre nós, um deficit manifesto de “socialização” de valores imprescindíveis, leva o Estado a voltar-se para a reforma escolar, de indesmentível urgência. Erra, não obstante, se açambarcar o que só lhe incumbe de forma parcial e subsidiária. Não seria a primeira vez que intervencionismos estatais na transmissão e (re)produção da cultura redundam em abusos de lesa democracia. Ao Estado nunca é permitido nem substituir-se às instâncias intermédias da sociedade civil, nem “professar” ou impor qualquer ideologia mesmo que a do partido maioritário. Aliás estaria a amaneirar as bases do Direito que o legitima e pelo qual deve reger-se. Decididamente, o debate ideológico e cultural não é o seu campo. Pelo contrário, incumbe-lhe criar as condições para que as instâncias competentes o assumam e levem a bom termo. Entretanto, urge estar atento à sociedade civil que, demitindo-se com facilidade, pactua, conivente, com excessivas estatizações. Renitente, às vezes em demasia, quanto à intervenção na área económica, parece não se importar que sejam negadas às famílias a prioridade e a liberdade de escolha e de intervenção na educação dos filhos.

Tuesday, November 11, 2008

EFEMÉRIDES




Onze de Novembro, festa litúrgica dessa grande figura de finais do século IV que, vinda da Europa Central, se transformou num dos principais evangelizadores das Gálias.
São Martinho de Tours lhe chamam os livros litúrgicos, para o distinguir de outros santos e figuras da Igreja que dão pelo mesmo nome.
Um desses é, por exemplo, Martinho de Dume, que, dois séculos mais tarde, veio da mesma região da Europa e acabou evangelizando o extremo noroeste da Península
Ibérica e a cuja acção se devem, entre outras coisas importantes, algumas das especificidades da língua portuguesa.
E poderíamos também pensar naquele onze de Novembro de 1417, quando Otão Colonna, escolhido em Sutri para, como Papa, levar a bom termo os esforços destinados a resolver a crise criada pelo cisma de 1378, toma o nome de Martino V.
À primeira vista parece tratar-se apenas de datas, simples efemérides que pouco ou nada têm a ver umas com as outras.
E, afinal, não é assim.
Pensando bem, ligando pessoas e acontecimentos, estes e outros, não perdendo nada do que caracteriza os contextos em que todos se inserem, vamo-nos dar, mais uma vez, com aquilo que nos falta, não só para compreendermos este mundo que dá pelo nome de Europa, mas também encontrarmos pistas fundamentais na solução da crise profunda que o consome.
Agora, quando reparamos na insensatez que caracteriza os movimentos pseudo-culturais deste período, não podemos evitar uma profunda sensação de desencanto e pessimismo.