resistencia

Monday, July 10, 2006

MUNDIAL 2006


O fim da utopia?

Ninguém esperava o contrário: na final do Campeonato Mundial de Futebol, os Portugueses tinham necessariamente de torcer pela Itália.
Agravos antigos e o facto de ter sido a França a impedir Portugal de ir mais além, juntavam - se a uma simpatia quase instintiva por aqueles que, tão meridionais como nós, como nós sofrem da sobranceria dos que estão um pouco mais a norte, neste velho continente.
Apesar de tudo, penso que sofri tanto como qualquer francês, quando vi sair do campo, por expulsão directa, esse gigante do futebol, que tem o nome quase mítico de Zidane e foi quem marcou o golo que levou à eliminação de Portugal.
Tive pena. Muita pena mesmo; e fui dizendo comigo: logo no último jogo do campeonato. Não sabemos o que se passou entre ele e adversário agredido. Mas todos vimos a agressão, e ninguém duvida da justeza do cartão vermelho. Por isso ficámos ainda com mais pena.
E estávamos ainda a digerir esta pena, talvez um pouco diluída na alegria de ver a Itália vitoriosa, quando se anuncia que os jornalistas escolheram como jogador do Campeonato - pasme-se! - este Zidane, que precisamente no último jogo, comete uma das faltas mais graves que se podem cometer em futebol.
Eu já sabia que a ética andava muito mal tratada nos ambientes jornalísticos.
Mas sempre esperei maior sentido de responsabilidade por parte daqueles que pretendem ter também uma função pedagógica:
Será que, neste Mundial de 2006, não tenha havido jogadores mais exemplares?
Ou têm razão os pessimistas que recusam ao futebol actual a classificação de escola de virtudes?
Perante isto, onde vai já a utopia do desporto como fonte de paz e união entre os povos?

Tuesday, July 04, 2006

SUBSTITUIÇÕES REDUTORAS

A propósito da festa litúrgica da Rainha Santa Isabel

Bem sei que a questão não é de uma importância por aí alem: dizer Rainha Santa Isabel ou dizer, como vem nos livros litúrgicos, Santa Isabel de Portugal, não faz muita diferença, pelo menos aparentemente.
Pelo menos aparentemente, note-se: porque se aprofundarmos a questão, talvez descubramos uma diferença com certa importância:
O povo português, que a canonizou, antes do pronunciamento canónico propriamente dito, sempre a designou por Rainha Santa, indicando claramente, embora talvez sem se dar conta, que a heroicidade das suas virtudes tinha a ver principalmente com o modo como vivera a sua condição de rainha. Rainha, esposa e mãe.
Claro que se é rainha de Portugal, a sua prática da virtude tinha necessariamente de contar com a sua condição de portuguesa.
Mas ela é portuguesa porque é rainha de Portugal; por isso não pode ser uma santa portuguesa se não for uma rainha santa.
Será que estamos a voltar à questão de o que é nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
E se estivéssemos? Será assim tão evidente a resposta para a pergunta sobre se foi o ovo ou galinha que nasceu primeiro?
Pessoalmente acho até que o problema da prioridade no nascimento, se do ovo se da galinha, é um bom exemplo de perguntas que nascem da nossa observação da natureza, e às quais o que responde mais vezes é a superficialidade de quem não observa a mesma natureza.
Voltando ao modo de nos referirmos à princesa de Aragão (c.1270-1236) que, em 1282, pelo casamento com o rei D. Dinis, se tornou rainha de Portugal, esquecer a sua condição de rainha, seria pôr de lado exactamente o que foi, digamos assim, o instrumento de que se serviu para viver aquela heroicidade das virtudes que a Igreja exige para elevar alguém à honra dos altares.
Santa Isabel de Portugal ou Rainha Santa Isabel?
Qual a diferença, do ponto de vista da semântica teológica?
Alguns não acharão nenhuma; outros pensarão até que a primeira forma é melhor, porque evita títulos actualmente pouco prestigiados.
Eu penso de outro modo:
Primeiramente porque ser rainha de Portugal não era um título, mas uma função que se adquiria, ou pelo casamento, ou, em certos casos, que alteravam o conteúdo dessa função, por herança…
Ao contrário do que acontece com a nacionalidade, o tornar-se rainha, mesmo só por casamento, dá à pessoa uma nova condição, que tem de entrar no modo de realizar a sua vocação à santidade.
E, no caso de Santa Isabel, já é tempo de a historiografia, que nesse campo tem reparado algumas injustiças, começar a ter mais eco nos escritos e na pregação a que dão azo efemérides com a deste 4 de Julho.