resistencia

Monday, February 25, 2008

JUNDO DO POÇO II

Aos meus amigos ofereço algumas linhas de uma página do meu diário (o tal armazém):

Dá-me de beber!

Então Jesus, cansado da caminhada, sentou-se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia. Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus: «Dá-me de beber.» (João: 4, 6-7)
Chove.
Calada a fúria dos ventos, ficou-nos o ruído das águas, abundantes, teimosas, a segredar à natureza que o seu autor é muito mais generso do que os homens, que estragam tudo e depois se queixam, como se os culpados fossem sempre os outros.
É a sina do “rei da criação”, que primeiro se deixa seduzir por ela e depois tem ar de culpar o próprio Deus, porque a fez assim, tão sedutora.
Vem-me à mente o episódio da Samaritana:
Que Deus o nosso!
Cansado da caminhada, sentou-se, sem mais, na borda do poço.
Ali, onde devia aparecer alguém profundamente marcado pelos acidentes da vida, quiçá, pela maldades dos homens.
Que força se encerra nesta economia narrativa de João, que capta como ninguém a mensagem bíblica da mulher como símbolo do extremo carinho do Criador sobre o ser humano e dos males que lhe acrretam os gestos
tendentes a obscuerecer esse carinho!
Era por volta do meio-dia. Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água.
Na realidade, que significa isto, de uma mulher, por volta do meio dia, quando toda a gente descansa, no conforto da sua habiatção, vir tirara água do poço?
As informações que tiramos da sequência do diálogo permitem-nos pensar o pior.
E Jesus, como inicia Ele a conversa?
Como faz Deus onnosco: Pede.
Disse-lhe Jesus: «Dá-me de beber.»
É assim o nosso Deus:
Vem pôr-se no meio dos homens, percorrer os seus caminhos, cansar-se com eles e parar onde eles param, em busca de conforto, de algo que mate a sede de felicidade que os devora.
«Dá-me de beber.»
Mulher, partilha comigo dessa água que vais tirar do fundo do poço; repara que não és a única que se inquieta, que sofre as durezas da vida, que tem sede, neste caminhar tão acidentado.
A minha água?
É doutro género: mas tê-la-ás na medida em que fizeres deste poço, não já o lugar do teu martírio, mas o ponto de encontro das indignidades humanas com as misericórdias divinas.

JUNTO DO POÇO

Friday, February 22, 2008

REGRESSO


Resistir para resistir

Foi este blog criado para partilhar, não tanto ideias, como sobetudo emoções, sentimentos; alguns pedaços de humanidade, daqueles que podemos, sem especiais equívocos, trazer para a praça pública.
Procurei manter o programa inicial, ainda que nem sempre com fidelidade canina... até porque não considero essa a fidelidade ideal do coração humano. Esta é muito superior, vai mais longe, torna-se mais complexa... resiste a todos os tipos de análise simplista.
De qualquer modo, foi para resistir - ao tempo, ao cansaço, à preguiça, ao medo, aos simplismos obnubiladores da verdade... foi para resistir a tudo isso que criei este blog
E confesso humildemente que a minha ausência significa isso mesmo: a quebra da capacidade de resistir.
Volto, porque não queria resistir à pressão dos amigos.
Mas eles terão de ter paciência e perdoar-me que algumas vezes abuse do armazém em que há mais de quarenta anos venho acumulando coisas .... até que chegue a hora de o destruir por completo, porque é esse o seu destino.
À espera do próximo post – que não demorará, se o cumputador for compreensivo – um carinhoso abraço para todos.