resistencia

Tuesday, November 27, 2007

A ESTÁTUA


Dedico este post - trecho que escrevi no meu diário depois de ler Daniel: 2, 35-45 - ao meu caríssimo amigo José Henrique Domingues Pedrosa, que faz anos hoje, tem sido um dos mózinhos da minha caminhada informática e me faz sentir saudades do tempo em que trabalhávamso na mesma equipa e celebrávamos os aniversários juntos.
Um grande abraço, acro Zé.
Ora aqui está uma belíssima metáfora do carácter efémero das construções dos homens; linda metáfora, que nos ajuda a perceber o significado transcendente da história humana.
Alguns dirão que o autor sagrado quis apenas dar uma outra versão do mito da Idade de Ouro.
Talvez.
Mas isso não altera o essencial, porque também o mito da sucessão das idades fala da experiência humana dentro das fronteiras do tempo. E aí, quando não se abrem horizontes mais vastos, tudo vai de mal a pior.
Só que esta é precisamente a diferença, uma diferença abissal, entre o mito da Idade de Ouro e a metáfora da estátua de Daniel: Porque, ao contrário da sucessão degradante das idades, esta não cai em ruinas por fatalidade, mas por falta de bases que resistam aos ataques de fora.
Por outro lado, nesta metáfora, não se dá o ir inevitavelmente de mal a pior: a riqueza e o brilho dos metais preciosos, imprudentemente assentes em bases tão frágeis, acabam absorvidos pela realidade dessa pedra misteriosa que se desprende da montanha, e ninguém consegue deter na sua marcha purificadora, reduzindo a pó tudo o que não aceita a sua dinâmica.
É forte a tentação de irmos à busca de correspondentes históricos para as entidades referidas nesta narrativa, em que o estilo apopcalíptico não permite dúvidas sobre o seu carácetr simbólico.
O Profeta vê no percurso da rocha que se desprende da montanha a acção providencial de Deus, que conduz a marcha da história para a sua consumação final, numa apoteose em que entrará tudo o que não recusou a transcendência do tempo.
Talvez os actuais senhores da Europa, que também não sabem remediar as perdas de identidade provocadas pela globalização, devessem parar algum tempo e estudar textos como este, que também pertencem às nossas raízes culturais.