Wednesday, November 26, 2008

O MAU USO DAS PALAVRAS

I
FALANDO DE LAICIDADE

O mal não é de hoje: podemos até dizer que existe desde o primeiro momento em que o homem se deu conta de que podia usar determinados sons para comunicar, não propriamente o seu pensamento, mas aquilo que gostaria que os outros vissem como pensamento seu.
Chame-se-lhe o que se quiser: manipulação da linguagem, terrorismo linguítsico, erro, falácia, ou simplesmente mentira.
Mentira consciente, porque se quer enganar, ou mentira involuntária, porque se ignora o real significado das palavras.
Seja como for, pode dizer-se que o combate ideológico, seja filosófico, político ou religioso, está muitas vezes marcado pelo mau uso das palavras, que tanto podem servir para ilustrar como para enganar.
É um tema que já abordei mais do que uma vez nos meus blogues e que me traz realmente apoquentado, pois me dou conta de como, em Portugal, os formadores da opinião pública, por distracção, às vezes, por ignorância, muitas vezes, e por má fé, quando nos apanham distraídos, encobrem o erro com o véu das palavras.

Um grupo delas, agora muito em moda, pertence à familia de laico (latim: laicum, que, por via normal, não escolar, veio a dar leigo): laicismo e laicidade.
Esta última palavra, porque muito do apreço de Bento XVI, aparece agora com mais frequência nos jornais, que, no entanto, não a tomam no sentido em que a emprega o Papa, mas aproximando-a subreticiamente de laicismo, que é outra coisa radicalmente diferente.
Aconselha-se a leitura de um texto publicado pelo Dr. Luís Inácio João, em Leiria-Fátima, órgão oficial da diocese, sob o título: “Laicidade, serviço à pessoa e à sociedade”.

Ao autor agradeço o ter-me posto à disposição esse texto, do qual transcrevo o passo seguinte, como introdução a outras reflexões que farei sobre o mau uso desta e doutras palavras que andam por aí aos pontapés de quem quer.

Entre nós, um deficit manifesto de “socialização” de valores imprescindíveis, leva o Estado a voltar-se para a reforma escolar, de indesmentível urgência. Erra, não obstante, se açambarcar o que só lhe incumbe de forma parcial e subsidiária. Não seria a primeira vez que intervencionismos estatais na transmissão e (re)produção da cultura redundam em abusos de lesa democracia. Ao Estado nunca é permitido nem substituir-se às instâncias intermédias da sociedade civil, nem “professar” ou impor qualquer ideologia mesmo que a do partido maioritário. Aliás estaria a amaneirar as bases do Direito que o legitima e pelo qual deve reger-se. Decididamente, o debate ideológico e cultural não é o seu campo. Pelo contrário, incumbe-lhe criar as condições para que as instâncias competentes o assumam e levem a bom termo. Entretanto, urge estar atento à sociedade civil que, demitindo-se com facilidade, pactua, conivente, com excessivas estatizações. Renitente, às vezes em demasia, quanto à intervenção na área económica, parece não se importar que sejam negadas às famílias a prioridade e a liberdade de escolha e de intervenção na educação dos filhos.

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