Tuesday, July 04, 2006

SUBSTITUIÇÕES REDUTORAS

A propósito da festa litúrgica da Rainha Santa Isabel

Bem sei que a questão não é de uma importância por aí alem: dizer Rainha Santa Isabel ou dizer, como vem nos livros litúrgicos, Santa Isabel de Portugal, não faz muita diferença, pelo menos aparentemente.
Pelo menos aparentemente, note-se: porque se aprofundarmos a questão, talvez descubramos uma diferença com certa importância:
O povo português, que a canonizou, antes do pronunciamento canónico propriamente dito, sempre a designou por Rainha Santa, indicando claramente, embora talvez sem se dar conta, que a heroicidade das suas virtudes tinha a ver principalmente com o modo como vivera a sua condição de rainha. Rainha, esposa e mãe.
Claro que se é rainha de Portugal, a sua prática da virtude tinha necessariamente de contar com a sua condição de portuguesa.
Mas ela é portuguesa porque é rainha de Portugal; por isso não pode ser uma santa portuguesa se não for uma rainha santa.
Será que estamos a voltar à questão de o que é nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
E se estivéssemos? Será assim tão evidente a resposta para a pergunta sobre se foi o ovo ou galinha que nasceu primeiro?
Pessoalmente acho até que o problema da prioridade no nascimento, se do ovo se da galinha, é um bom exemplo de perguntas que nascem da nossa observação da natureza, e às quais o que responde mais vezes é a superficialidade de quem não observa a mesma natureza.
Voltando ao modo de nos referirmos à princesa de Aragão (c.1270-1236) que, em 1282, pelo casamento com o rei D. Dinis, se tornou rainha de Portugal, esquecer a sua condição de rainha, seria pôr de lado exactamente o que foi, digamos assim, o instrumento de que se serviu para viver aquela heroicidade das virtudes que a Igreja exige para elevar alguém à honra dos altares.
Santa Isabel de Portugal ou Rainha Santa Isabel?
Qual a diferença, do ponto de vista da semântica teológica?
Alguns não acharão nenhuma; outros pensarão até que a primeira forma é melhor, porque evita títulos actualmente pouco prestigiados.
Eu penso de outro modo:
Primeiramente porque ser rainha de Portugal não era um título, mas uma função que se adquiria, ou pelo casamento, ou, em certos casos, que alteravam o conteúdo dessa função, por herança…
Ao contrário do que acontece com a nacionalidade, o tornar-se rainha, mesmo só por casamento, dá à pessoa uma nova condição, que tem de entrar no modo de realizar a sua vocação à santidade.
E, no caso de Santa Isabel, já é tempo de a historiografia, que nesse campo tem reparado algumas injustiças, começar a ter mais eco nos escritos e na pregação a que dão azo efemérides com a deste 4 de Julho.

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