MUNDIAL 2006

O fim da utopia?
Ninguém esperava o contrário: na final do Campeonato Mundial de Futebol, os Portugueses tinham necessariamente de torcer pela Itália.
Agravos antigos e o facto de ter sido a França a impedir Portugal de ir mais além, juntavam - se a uma simpatia quase instintiva por aqueles que, tão meridionais como nós, como nós sofrem da sobranceria dos que estão um pouco mais a norte, neste velho continente.
Apesar de tudo, penso que sofri tanto como qualquer francês, quando vi sair do campo, por expulsão directa, esse gigante do futebol, que tem o nome quase mítico de Zidane e foi quem marcou o golo que levou à eliminação de Portugal.
Tive pena. Muita pena mesmo; e fui dizendo comigo: logo no último jogo do campeonato. Não sabemos o que se passou entre ele e adversário agredido. Mas todos vimos a agressão, e ninguém duvida da justeza do cartão vermelho. Por isso ficámos ainda com mais pena.
E estávamos ainda a digerir esta pena, talvez um pouco diluída na alegria de ver a Itália vitoriosa, quando se anuncia que os jornalistas escolheram como jogador do Campeonato - pasme-se! - este Zidane, que precisamente no último jogo, comete uma das faltas mais graves que se podem cometer em futebol.
Eu já sabia que a ética andava muito mal tratada nos ambientes jornalísticos.
Mas sempre esperei maior sentido de responsabilidade por parte daqueles que pretendem ter também uma função pedagógica:
Será que, neste Mundial de 2006, não tenha havido jogadores mais exemplares?
Ou têm razão os pessimistas que recusam ao futebol actual a classificação de escola de virtudes?
Perante isto, onde vai já a utopia do desporto como fonte de paz e união entre os povos?