O URUBU E A CRIANÇA
Para quem por aqui passar, deixo mais uma página do meu diário:
Andava à procura de imagens que pudessem enriquecer o meu álbum, no capítulo da fome: e deparei-me com esta, que contemplei demoradamente. Depois, no auge da emoção, veio a legenda e o texto. Este é um lindo poema em português do Brasil; que não poderíamos adaptar – como, aliás fui tentado – sem destruir, não só a beleza da sua estrutura poética, mas também o carácter acutilante da sua mensagem.
Distraio-me um pouco dela, porque me vem à memória o absurdo dos discursos que tenho ouvido sobre a “unificação da língua”.
Primeiro, a legenda:
O urubu espera a morte da criança por fome e inanição. A que sonhos essa criança teve direito? Egoístas que somos, sempre estamos atormentados pelos nossos pequenos problemas e esquecemos que há pessoas que sofrem de verdade. Talvez tenhamos ficado como esse urubu da foto: a morte e o sofrimento já não nos comovem. Saibamos agradecer pelo muito que recebemos e juntemos as nossas mãos para ajudar os que precisam de socorro, até para as necessidades mais simples!! O poema Além da imaginação, parece traduzir o quão esquecidas são as pessoas que sofrem:
ouvido sobre a “unificação da língua”.
Agora, o texto:
“Tem gente passando fome.
E não é a fome que você imagina
entre uma refeição e outra.
Tem gente sentindo frio.
E não é o frio que você imagina
entre o chuveiro e a toalha.
Tem gente muito doente.
E não é a doença que você imagina
entre a receita e a aspirina.
Tem gente sem esperança.
Mas não é o desalento que você imagina
entre o pesadelo e o despertar.
Tem gente pelos cantos.
E não são os cantos que você imagina
entre o passeio e a casa.
Tem gente sem dinheiro.
E não é a falta que você imagina
entre o presente e a mesada.
Tem gente pedindo ajuda.
E não é aquela que você imagina
entre a escola e a novela.
Tem gente que existe e parece imaginação.”
"Beati qui lugent, quoniam ipsi consolabuntur."
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