Monday, August 06, 2007

MEMÓRIA E IDENTIDADE



Seis de Agosto.
O calendário litúrgico assinala: Festa da Transfiguração do Senhor.
E diz ainda o mesmo calendário que as igrejas cujo titular é o Santíssimo Salvador – como acontece com a basílica de São João de Latrão (Sé de Roma, a “Mãe de todas as Igrejas”) – celebram neste dia o seu titular.
Santíssimo Salvador!
Desde garoto, quando entrava na igreja paroquial, logo os meus olhos se fixavam no tecto, cujo estuque, que reproduzia figuras do catecismo da “Maison de bonne presse”, cenas da vida de Cristo rodeando o quadro central, que figurava precisamente a Transfiguração.
Mais tarde soube que a obra desse tecto, como a disposição das tábuas policromadas do soalho, tinha sido imaginada e dirigida pelo Padre Jacinto António Lopes, já completamente cego, por efeito da doença que o atacara quase no início da sua carreira sacerdotal, mas com o fulgor do espírito e do zelo com que se encarregara da paróquia por nomeação régia, fez agora cemm anos.
Já aqui falei do injusto esquecimento a que foi votado este centenário. Não sei se vale a pena voltar ao tema. Como, porém, uma das funções deste blogue é dar-me um espaço para desabafar, deixo-me vencer pela tentação de abrir um pouco a janela da alma, a ver se a luz do exterior diminui as sombras do choque das memórias do passado com as imagens do presente.
E não se pense que o que do presente me atormenta é o facto de ser diferente; mas o pouco e nada ter a ver com o passado; à sua falta de coerência específica, ao apagamento de tudo o que podia ensinar as pessoas a perceber a correcção do caminho, que não se define só pelo destino: mas em coerência com a origem.
Todos sabemos que os grupos humanos, quaisquer que eles sejam, têm necessidade absoluta da memória para salvarem a sua identidade.

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