Friday, August 17, 2007

A HORA DOS ZAROLHOS

Escrevo depois daquela reportagem sobre o livro que está agora no top das vendas: The Secret. Vai em inglês, não só por ser o idioma original, mas também porque se trata de uma área linguística particularmente atingida pelo fenómeno da prostituição da litertaura, que campeia por aí, em todo este perdido mundo ocidental.
Escuto os entrevistados: uns leram o livro e acham que é assim mesmo; outros não leram, mas, porque querem ser modernos, também acham que é assim mesmo...
Fala-se de ter pensamentos positivos, querer teimosamente, atrair coisas boas... até que alguém se atreve a empregar a palavra optimismo.
E eu venero a memória de minha mãe, que, quando nos via obcecados por coisas irremediáveis ou causas perdidas, sem discursos rebuscados, nos dava um empurrão para a frente, com uma frase que não era dela, mas que me traz de volta o seu sorriso optimista: Deixa lá: o que não tem remédio remediado está. E conhecia as outras receitas da sabedoria popular e da fé das pessoas simples: De ora a hora Deus melhora. Às vezes, quando nos via pouco interessados pela luta da vida: o dinheiro não vem cá ter pelo buraco das telhas, e... Deus ajuda quem muito madruga...
Depois penso na luta ascética: a dos meus pais, antes da que apendi na vida dos santos. Não os santos milagreiros, das hagiografias tradicionais, mas os santos de carne e osso que semeiam a paz à sua volta e arriscam tudo pelos valores nos quais, bem lá no fundo, até os que os perseguem acreditam.
E voltei aos milhões de livros vendidos nestes últimos anos, movimentando centenas de milhões de dólares, porque na nossa cultura ocidental se perderam as luzes que iluminaram os seus criadores.
E como sempre há quem se aproveite da ignorância dos outros, aí estão os livros que toda a gente compra: uns porque buscam soluções mágicas para os seus problemas, outros porque procuram novidades surpreendentes, outros porque tomam isso como sinal de modernidade.
Também se dizia, quando eu era miúdo, que em terra de cegos, quem tem olho é rei.
Estamos bem no tempo áureo dos zarolhos.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home