Wednesday, August 22, 2007

CULTURA SEM ALMA?


Cultura sem alma

Há oito dias que me andam na mente as memórias e as imagens daquele quinze de Agosto numa encantadora aldeia do Limousin.
Almoço no seio de uma família franco-portuguesa, casa alugada pelo município, espaçosa, com sinais de desafogo talvez um pouco exagerados, dada a sua condição de trabalhadores rurais, com ar de festa, porque o quinze de Agosto, mais do que o catortze de Julho, é, em todas as aldeias francesas, dia de festa.
Em Affieux – assim se chama essa encantadora aldeia – como por quase todo o Limousin, já não se sabe porque é festa.
Ficou-me particularmente gavada na memória a tarde, no centro da aldeia, com aquela deliciosa paródia dos concursos hípicos: um humorismo que só os franceses do Languedoque, ainda tão próximos da cultura provençal, sabem transformar assim, em espectáculo que diverte sem ofender.
Aproveitei uma pçausa para visitar a igreja de Saiant-Pardoux, um santo invocado para os amles da vista: igreja paroquial, marcada pela história da povoação, desde os tempos áureos da pática religiosa, até à desertificação, que se foi acentuando a partir dos anos atribulados da Revolução.
Ficaram as relíquias da arquitectura.
Quando parei para pensar um pouco, pojectando na linguagem das obras de arte, talvez demasiado triste para o momento, os ecos que me vinham lá de fora, e me lembrei de que ali, naquele ambiente de festa, ninguém, nem os mais antigos, se lembravam do que fizera do quinze de Agosto aquilo que ainda é, sobretudo nos meios rurais da França, tive um pressentimento, que hoje é algo mais do que isso:
Todos caminhamos para um tempo em que da cultura europeia nos ficará apenas a máscara, um corpo sem alma.

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