Thursday, August 23, 2007

CANÇÃO DO MENINO PERDIDO



Botôes que não desabrocharam

Não se trata de obsessão, nem tão pouco de querer mexer em feridas que, quem as tem mais vivas e quiçá mais dolorosas, deseja esquecer rapidamente.
Eu diria que é principalmente a solidariedade com esses corações, amargurados por uma táctica de morte que lhes nega alternativas sérias ao conflito que alguma vez se instalou dentro deles.
Ofereço aos outros, aos que pensam que resolvem tudo eliminando os mais incómodos dados da questão, a tradução livre deste poema castelhano que há dias me chegou às mãos:

Eu tinha um berço preparado...
Uma nascente misteriosa
inundava-me de sonhos de carinho.
Um rio morno e límpido
fluía docemente,
e algo me repetia
que seria torrente
de vida que à minha vida chegaria...
Sei que todo o botão
sonhará como eu. No fundo do coração
pressentia a chama; mas ainda seria
apenas um sonho que nascia.
Eu fui soma de luas impacientes
até que chegou um dia
em que algo me desatou, tão repentinamente,
que ao invadir-me a água da brisa
por um bosque de sangue quente,
me devorou o lobo enorme da morte
nos próprios umbrais da vida.


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