Saturday, February 14, 2009

PARA NÃO CALAR DE TODO



Jurei a mim mesmo que não falaria do assunto, pelo menos para já. Tenho vindo a cumprir o juramento, apesar de não estar seguro de que seja a atitude mais correcta, sobretudo quando se vão multiplicando os discursos e os gestos tendentes a cobrir uma imensa hipocrisia, que se foi estendendo, envolvendo tudo e todos, até aqueles de quem nunca se esperaria tal coisa.
Isto não é ainda a quebra do juramento: é apenas a oferta, para quem queira recebê-la, da partilha de um raio de luz que me chegou, via ZENIT, da América do Sul.
O sacerdote Aldo Trento é, desde 1989, um dos missionários mais conhecidos da Fraternidade de São Carlos Borromeu do Paraguai. Tem 62 anos e é responsável por uma clínica para doentes terminais, em Assunção.
Em 2 de Junho passado, o presidente da República Italiana, Giorgio
Napolitano, havia-lhe conferido o título de Cavaleiro da Ordem da Estrela
da Solidariedade.
Na quarta-feira passada, o sacerdote devolveu a condecoração
a Napolitano, por não ter assinado o decreto que teria detido o protocolo
médico para Eluana Englaro.

«Como posso eu, cidadão italiano, receber semelhante honra, quando o senhor Presidente, com sua intervenção, permite a morte de Eluana, em nome da República Italiana?».
«Tenho mais de um caso como o de Eluana Englaro: Penso no pequeno Víctor, um menino em coma, que aperta os punhos; a única coisa que fazemos é dar-lhe de comer com a sonda. Diante destas situações, como posso reagir frente ao caso de Eluana?»

«Ontem trouxeram-me uma menina nua, uma prostituta, em coma, deixada na
porta de um hospital; chama-se Patrícia, tem 19 anos; nós lavámo-la e
limpámo-la. E ontem ela começou a mexer os olhos».
«Celeste tem 11 anos, sofre de leucemia gravíssima, não havia sido tratada
nunca; trouxeram-na para mim, a fim de que fosse internada. Hoje Celeste
caminha. E sorri.»

«Levei ao cemitério mais de 600 destes enfermos. Como se pode aceitar
semelhante operação, como a que se fez com Eluana?»
«Cristina é uma menina abandonada numa lixeira; é cega, surda, treme quando a
beijo, vive com uma sonda, como Eluana. Não reage, só treme, mas pouco a
pouco recupera as faculdades».
«Sou padrinho de dezenas destes enfermos. Não me importa a sua pele
putrefacta. O senhor Presidente haveria de ver com que humildadeos meus médicos tratam deles.»

Aldo Trento diz experimentar uma «dor imensa» pela história de Eluana
Englaro: «É como se me dissessem: agora vamos levar daqui os seus filhos
doentes».

Para este missionário, «o homem não se pode reduzir a uma questão química».
«Como pode o presidente da República oferecer-me uma estrela da
solidariedade no mundo? Por isso a levei à embaixada italiana no Paraguai.»

«Aqui o racionalismo cai, deixando espaço ao niilismo. Dizem-nos
que uma mulher ainda viva já estaria praticamente morta. Mas então é
absurdo também o cemitério e o culto à imortalidade que animam a nossa
civilização.»

Junto a fotografia de uma jovem, antes e depois do coma, no qual esteve durabte seis meses.

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