Thursday, January 12, 2006

A DOR COMO JANELA


Um pouco na linha do que dizia no meu último "post", que, de facto, quis a Providência me fosse particularmente presente nas duas semanas que passaram, não apenas como eco de uma teoria abstracta, mas como luz para os momentos mais ignificativos. Luz que ilumina e força que ajuda a resistir... resistir à morte onde é a vida que chama por nós.
Chamo janela à dor e não estrela, porque a dor não tem luminosidade suficiente: mas ela é verdadeira janela aberta para o clarão da estrela que mostra o caminho e alumai a caminhada.
Para os meus amigos mais íntimos transcervo parte do que ecsrevi no meu diário, na terceira página deste 2006.
Foi o funeral do Filipe.
Pobre rapaz! De saúde menos que débil, sem grande disciplina na alimentação e nos cuidados médicos, sempre imaginei que a morte o colheria cedo; e, quando os pais e os irmãos desabafavam, lamentando aquela falta de cuidado, repetia-lhes que o deixassem viver feliz. Porque o Filipe, embora não tivesse ar de infeliz, tinha um carácter reservado, com alguns assomos de teimosia que me deixavam pensativo, suspeitando de que, lá bem no fundo do coração guardava mágoas antigas… talvez a recusa em aceitar o estatuto de “diminuído” que demasiado cedo lhe aplicaram, privando-o assim de alguns bens, nomeadamente de uma certa cultura, a que tinha direito como os outros e de que teria certamente sido capaz.
Afinal, a morte veio colhê-lo, minutos depois de expirar o ano, na estrada do regresso a casa, após a festa… que ele gostava de se divertir.
Estimado pela generosidade com que ajudava as pessoas – havia até quem explorasse essa generosidade –, poucos apreciaram devidamente a sua inteligência e o bom senso com que resolvia situações complicadas da vida.
É o segundo sobrinho que acompanho à sepultura.
Chego a casa noite cerrada, e, por estranho que pareça, sinto que acabo de viver um especial momento natalício:
Pelo rejuvenescimento que significa para mim qualquer encontro com as raízes, mesmo quando se trata de um funeral, sobretudo se vivido assim, em constante apelo para os valores que alimentam essas raízes e que nos ajudam a resistir, para que a morte não tenha a última palavra.
E não tem mesmo, porque, ao arrepio da vida que actualmente nos obrigam a viver, e talvez graças à intercessão do membro cuja morte nos reune, antes de nos separarmos, como banho reconfortante, conseguimos criar um ar de festa de família, e sempre regressamos com o propósito de repetir os encontros em circunstâncias diversas.

Não será isto unir o Natal ao Calvário, encontrar na dor a janela que nos mostra a estrela do Messias?

7 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Sem comentários... mas com um abraço forte!

3:22 AM  
Blogger Augusto Ascenso Pascoal said...

Não imaginas como é grande a parte que tem o teu abraço na luminosidade da estrela para a qual esta dor foi uma verdadeira janela.
Muito obrigado, caríssimo Abílio. Mas para a próxima não deixes de fazer o teu comentário... sincero, livre, como te conheço.
Outro abraço.

3:54 PM  
Anonymous Anonymous said...

Gostava de pedir ao Doutor q escrevesse (aqui ou no outro blog) a sua visão da temática abordada na tertúlia "Dom da Vida".
Cumprimentos

5:47 PM  
Blogger Augusto Ascenso Pascoal said...

Meu caro anonymous, não prcebo bem sobre que quer que dê o meu parecer: sobre a temática, em si, ou sobre o modo como foi abordada?
Darei o meu parecer, com todo o gosto; mas não sobre o quê...

6:12 PM  
Blogger Augusto Ascenso Pascoal said...

Ah! Esq

6:14 PM  
Blogger Augusto Ascenso Pascoal said...

Ah! Esq

6:14 PM  
Blogger Augusto Ascenso Pascoal said...

Ah! Esqueci-me de dizer que este seria um dos temas que prefiro tratar no "peço a palavra".
Cumprimentos
AP

6:16 PM  

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