PROFISSIONAL: SIM OU NÃO? I
O Padre Pantaleão, que era ligeiramente mais velho do que eu, mas que fazia o favor de ser meu amigo, irritava-se sempre, quando, nalguma repartição pública, lhe perguntavam pela profissão – porque o seu B.I. dizia que não tinha profissão – e, sem qualquer cerimónia, acrescentavam à sua identificação, sacerdote católico.
E protestava, dizendo que ser padre não era nenhuma profissão, que se identificava mais com um estado de vida, etc.
E talvez tivesse razão: mas o problema, sobre o qual quis algumas vezes conversar com ele serenamente – o que não era fácil, dada a paixão que punha em tudo… que saudades desses momentos, meu caro amigo! – o problema é que não podemos nunca pegar nas palavras isolando-as do seu vastíssimo contexto, fora do qual podem significar tudo o que quisermos, como muito bem sabem os demagogos de todos os quadrantes ideológicos.
Eu também estou convencido de que ser padre não é uma profissão, se por tal entendemos um trabalho a que se tem acesso e pelo qual se é remunerado, segundo regras de mercado comummente aceites e sempre negociáveis.
Diria que ser padre é uma forma de existência cristã, da qual são específicas algumas ocupações, que podem ser equiparadas, pelo menos no que se refere a direitos sociais, com os respectivos encargos, a outras profissões, não específicas do “ser padre”.
Além disso, qualquer sacerdote, mantendo a sua condição de sacerdote, pode, por razões de ordem pastoral, exercer profissões que não são específicas do “ser padre”; e fá-lo legitimamente, desde que em comunhão com o Presbitério, cuja cabeça é o bispo diocesano, ou, no caso dos religiosos, o seu superior maior, e respeitando as normas legais vigentes.
Vai esta reflexão para introduzir outra mais ampla, se os meus visitantes acharem oportuno; isto, sem queremos entrar na polémica sobre o político profissional, ainda que aproveitando as sugestões que nos traz para esclarecer algumas dúvidas a respeito de profissão, profissionalismo, função, funcionário e funcionalismo.
10 Comments:
Poderá ser sempre um problema para os outros esta questão.
Cheguei há algum (pouco, porque sou novo nestas andanças) que o que interessa quanto a este assunto é o facto de EU dsaber que não é uma profissão mas um estado de vida.
E não é que tenho de me ir lembrando disto numerosas vezes?!
Isso faz parte da tomada de cosnciência de que o que fazemos, directa ou indeirectamente, aparece na nossa vida, não propriamente a partir do nosso estado de vida, como tu dizes, mas da forma de existência cristã, que assumimos um dia de modo radical, mas que nunca está completamente assumida.
Bom tema de reflexão, não te parece?
Um abraço muito afectuoso
AP
AP
Eu diria que essa da «forma de existência cristã» é algo que o meu ser estudante (se isto se pode considerar uma profissão...) me tem ensidado a compreender um pouco mais. Mas, de facto, penso que uma (boa, grande, a transbordar...) dose de «profissionalismo» fica bem em tudo o que fazemos...
Pois, meu caro Zé, deste um salto: que isso era o que ia dizer na terceira reflexão sobre o tema.Assim, penso que escuso de perder tempo; está dito. De facto, parece-me que o que leva muitos sacerdotes a esquecer essa do profissionalismo,fazendo deles, a um tempo, maus profissionais e funcionários incompetentes, é precisamente a confusão entre profissão e função.
Mas está dito: profissionalismo em tudo, ainda que nem tudo sejam propriamente exigências da profissão e muto menos específicas da tal "forma de existência cristã".
Muito obrigado pela tua antecipação; assim posso descansar um pouco, enquanto não passo a outro tema.
Um abraço
Acho que há alguma «batota» aqui neste último comentário... Duas frases que escrevi antes não justificam o cancelar de uma «posta»!
Se tem uma terceira reflexão sobre o tema, ela que venha.
Se fôr preciso poderei oferecer-me para moderador para o nosso doutor romano não andar demasiado depressa nas reflexões.
Vê-se que ele está no ponto.
:-D
Não, não é uma terceira; seria a terceira, que poderia ainda ser seguida de uma quarta, etc. Mas antes de chegar à teceira, teria de passar pela segunda.
Vou retomar a minha reflexão pessoal; quando chegar ao fim, se o assunto não tiver perdido actualidade, talvez diga alguma coisa. Entretanto, toda a gente pode ir discutindo, que será uma forma de me ajudar na tal dita reflexão.
Um abraço
AP
O tempo que leva a vinda da próxima 'posta' é sensilvelmente proporcional ao tempo que leva à profissionalização de um indivíduo.
Acrescento apenas uma divagação que faço... As recentes declarações de Mário Soares quando disse que era político profissional espelha bem a mentalidade actual em relação a certos cargos que, supostamente, deviam ser serviços... Ou seja, o conceito actual de política está nos antípodas do que esteve na sua génese.
Bom.
Estou a ver que as minhas reflexões sobre o profissionalismo têm mesmo de ser completadas, antes que comecem a fazer-me dizer o que não disse.
Masa aquela da demora da "posta", dita assim, também não esclarece muito...
AP
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