Tuesday, October 18, 2005

A MÁSCARA DOS PRECONCEITOS



Uma actriz comenta o seu programa, ou melhor, o espectáculo em que entra com outros personagens, só mulheres... que falam, falam, falam sobretudo dos aspectos mais chocantes da sua luta de emancipação - que é muito diferente de promoção da mulher, é bom que se diga-, e congratula-se, a actriz, com o facto de, segundo ela, já podermos falar abertamente de coisas que até há pouco eram tabu, também segundo ela, que ainda hoje as mentes mais trdicionais e conservadoras (na linguagem da actriz, claro), não aceitam discutir «com naturalidade e sem preconceitos». Equacionando o texto, o quadro e os comentários, dei-me perfeitamente conta de que, afinal, o que dominava ali eram os preconceitos: porque para todos os intervenientes na discussão, falar das relações entre os sexos, incluindo a própria vida sexual,
«com naturalidade e sem preconceitos», tinha um significado puramente ideológico, isto é, queria dizer sujeição à ideologia que considera o sexo um acidente biológico, origem de profundos sentimentos de culpa, de que o homem só se liberta abandonanado-se totalmente às forças e sugestões do instinto. Tal como ensinavam os cátaros, no século XIII, e sempre afirmaram todas as correntes dualistas, tanto da filsosofia como da teologia.
Estamos perante uma daquelas realidades que a cultura moderna, a braços com todo o tipo de preconceitos em relação aos valores tradicionais, não consegue abordar senão combatendo esses valores. O que acontece é que conseguiu, apoderando-se de conceitos cuja raiz está precisamente neles, mascarar a tirania dos tabus a que presta culto.
Tive a confirmação disto mesmo, quando, há dias, por uma coincidência muito feliz para o meu raciocínio, verifiquei que havia na televisão dois programas simultâneos sobre a temática do sexo. Naturalmente tratava-se de dois canais diferentes: um dos programas, como mandam os bons hábitos da nossa televisão, tinha, no canto superior direito, a conhecidíssima argola vermelha; o outro, com numerosa assistência, que incluia até crianças, não tinha qualquer indicação de reserva. Fixei-me principalmente neste, prcurando, uma vez por outra, ver o que se passava do outro lado.
No fim, recuperando fragmentos da memória relativamente a programas antigos e recentes e recordando o que está a acontecer nas nossas escolas com aquilo que se chamou eufemísticamente - para não dizer hipocritamente - educação sexual, senti-me feliz por ter finalmente visto, no pequeno ecrã, a diferença entre o discurso positivo da descoberta, ou da ajuda na descoberta da grandeza do sexo e da sua função como força vital ao serviço da realização da pessoa, ser capaz de conhecer e amar... a diferença entre este tipo de discurso e as palestras, algumas das quais custam milhões à bolsa dos contribuintes, com que tantos hoje pretendem deitar abaixo os "preconceitos" e os "tabus" dos valores trdicionais.
Também neste campo queria continuar a resistir aos mixordeiros que, consciente ou inconscientemente me querem vender gato por lebre.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Hoje o preconceito está virado do avesso: quem não fala de sexo e suas experiências nesse campo há-de ser marginalizado.
Da maneira como estamos a abordar estes assuntos, não tarda passaremos a ser assexuados em troca de uma linguagem permanentemente sexualizada.

9:24 AM  
Anonymous Anonymous said...

Concordo com os dois!
Já somos três. Se somos estes, havemos de ser mais de certeza.
Porque então isto teima a ser assim, porque não muda. Já me veio no outro (agora 'blog perdido') essa perguntas, quando veio o tema da democracia ao de cima.
Esatremos a ser regidos por uma força meta-humana (logo meta-divina) que nos leva a todos para uma mesmo lado sem que o queiramos todos?
Hummm!
(Ficarei a pensar!)

12:55 PM  
Blogger Augusto Ascenso Pascoal said...

Duas palavrinhas, especialmente dedicadas ao Migo: partindo do princípio que estás a falar a sério - ou não, meu brincalhão? - penso que o que escrevi não é assim tão pessimista. Pelo menos foi o optimismo, a confirmação, graças a um programa televisivo, da teoria que sempre defendi, segundo a qual qualquer realidade humana- incluindo o sexo e tudo aquilo que envolve a nossa condição de seres sexuados - pode ser objecto de conversa pública, serena e inspiradora de sentimentos elevados.
Não tenho o direito de pedi-lo; mas peço-o na mesma: experiemnat a ler de novo, com amis calma, o meu texto... e vamos continuar a pensar.
Até já...

3:29 PM  

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