Sunday, September 03, 2006

NA SOMBRA DE CASSANDRA


A cidade está perturbada. Entre o medo e o entusiasmo: a euforia da falsa retirada dos inimigos, o discurso manipulador da vítima fingida, o cavalo de Minerva, as serpentes de Juno, a morte da Lacoonte, o cruzamento da tragédia com a comédia, e o povo embriagado que não sabe pensar.
Alagam-se as muralhas; ninguém toma a sério os gritos premonitores de Cassandra.
Pobre Cassandra! Sempre atenta, sem emenda nos avisos que ninguém escuta, sozinha nas madrugadas da ruína e da morte.
Lembrei-me do teu destino, esta tarde, quando escutava o final do segundo acto de Os Toianos, de Berlioz.
Melhor, não propriamente de ti, mas dessa cidade emblemática, cujo destino os educadores da aristocracia grega utilizavam como símbolo do que acontece sempre que os indivíduos ou as sociedades sacrificam o bem comum às paixões particulares.
Tu e a tua querida Tróia, consumida pelo fogo dos inimigos que teus próprios concidadãos introduziram nela, fazem–me pensar noutras cidades que fazem cair as muralhas para introduzir nelas os incendiários da noite, porque têm medo do destino de Lacoonte e desprezam a voz de Cassandra.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

humm!
Umas imagens e personagens interressantes.
Fez-me ou colocou em mim o desejo de ler algumas das obras que tratam desses episódios. Alguns foram lidos há tanto tempo que já o tempo me levou a memória.

1:57 PM  

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