A PERTURBAÇÃO DO PODER
Hoje decidi oferecer aos que por qualquer motivo vierem a este blogue, alguns parágrafos de uma longa reflexão desta manhã, ainda não concluída, porque nela tento reunir pensamentos que vêm de muito longe: alguns já marcados pela frustração dos desejos cujo incumprimento – aqui está uma palavra que repugna à minha sensibildade de amante da língua materna – é irremediável.
Antes de entrar na dinâmica das considerações puramente espirituais, a ordenar mais uma vez os pensamentos que a celebração do mistério há tantos anos desperta no meu coração de crente, apetece-me uma breve reflexão, pessoalíssima, ainda que, segundo creio, respeitadora do texto bíblico; e também, se me não engano, com particular actualidade, tendo em conta as leituras que se fizeram e continuam a fazer, em Portugal, do discurso do Papa aos bispos portugueses, por altura da visita Ad sacra limina Apostolorum.
Contemplo Jerusalém, a cidade santa dos Judeus, como realidade material, humana, cultural, política, religiosa e simbólica, que assim nos fala dela o texto evangélico:
As instituições funcionavam bastante bem, dada a plataforma de entendimento que se conseguira erguer sobre a habilidade política de Roma e o pragmatismo igualmente habilidoso da Sinagoga.
Aparentemente, pelo menos, temos o quadro ideal para o acolhimento devido ao Messias, o Ungido do Senhor, que vinha salvar e dar sentido a tudo isso.
E, no entanto, quando se fala dos sinais da sua chegada, o rei Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele.
A mim, o que me espanta é esta perturbação geral:
Que Herodes se perturbasse perante a hipótese de um novo concorrente, não espantaria quem conhecesse a história do seu reinado, vermelho do sangue das vítimas da sua ambição e dos seus medos.
Agora a cidade, com todos os representantes de uma fé e de uma cultura que há séculos vivia da esperança daquela vinda, anunciada pelos Profetas e cultivada por tantos estudiosos, isso é que me espanta.
E espanta-me tanto mais, quanto vemos que, na hora de agir, Herodes recupera o domínio das próprias ideias e organiza o mais maquiavélico dos planos que se conhece na história do mundo ocidental. Um plano que só não atinge plenamente os seus objectivos, porque quem conduz a história é o próprio Deus.
Mas a frieza do tirano não desiste, perante o primeiro fracasso: e Belém, no dizer do evangelista, chorará demoradamente a chacina das suas crianças.
E tudo, pasme-se, utilizando as armas e a impunidade resultantes daquele entendimento entre os detentores dos dois poderes.
Como podia deixar de me doer – e já lá vão muitos anos que me dói – esta tragédia de uma cegueira que parece específica das estruturas bem montadas, das plataformas de entendimento que acabam sempre por servir os filhos das trevas?
Antes de entrar na dinâmica das considerações puramente espirituais, a ordenar mais uma vez os pensamentos que a celebração do mistério há tantos anos desperta no meu coração de crente, apetece-me uma breve reflexão, pessoalíssima, ainda que, segundo creio, respeitadora do texto bíblico; e também, se me não engano, com particular actualidade, tendo em conta as leituras que se fizeram e continuam a fazer, em Portugal, do discurso do Papa aos bispos portugueses, por altura da visita Ad sacra limina Apostolorum.
Contemplo Jerusalém, a cidade santa dos Judeus, como realidade material, humana, cultural, política, religiosa e simbólica, que assim nos fala dela o texto evangélico:
As instituições funcionavam bastante bem, dada a plataforma de entendimento que se conseguira erguer sobre a habilidade política de Roma e o pragmatismo igualmente habilidoso da Sinagoga.
Aparentemente, pelo menos, temos o quadro ideal para o acolhimento devido ao Messias, o Ungido do Senhor, que vinha salvar e dar sentido a tudo isso.
E, no entanto, quando se fala dos sinais da sua chegada, o rei Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele.
A mim, o que me espanta é esta perturbação geral:
Que Herodes se perturbasse perante a hipótese de um novo concorrente, não espantaria quem conhecesse a história do seu reinado, vermelho do sangue das vítimas da sua ambição e dos seus medos.
Agora a cidade, com todos os representantes de uma fé e de uma cultura que há séculos vivia da esperança daquela vinda, anunciada pelos Profetas e cultivada por tantos estudiosos, isso é que me espanta.
E espanta-me tanto mais, quanto vemos que, na hora de agir, Herodes recupera o domínio das próprias ideias e organiza o mais maquiavélico dos planos que se conhece na história do mundo ocidental. Um plano que só não atinge plenamente os seus objectivos, porque quem conduz a história é o próprio Deus.
Mas a frieza do tirano não desiste, perante o primeiro fracasso: e Belém, no dizer do evangelista, chorará demoradamente a chacina das suas crianças.
E tudo, pasme-se, utilizando as armas e a impunidade resultantes daquele entendimento entre os detentores dos dois poderes.
Como podia deixar de me doer – e já lá vão muitos anos que me dói – esta tragédia de uma cegueira que parece específica das estruturas bem montadas, das plataformas de entendimento que acabam sempre por servir os filhos das trevas?
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